• Construção civil muda para atrair e manter colaboradores

     

    Na década de 1970, durante o chamado “milagre econômico”, houve um grande boom na construção civil brasileira, tanto na construção de moradias para comportar o aumento populacional nas cidades quanto em obras estruturais do governo. Com a recessão e o cenário turbulento dos anos 1980 e 1990, o setor amargou uma fase de estagnação, só retomando o ritmo nos anos 2000, quando o Brasil novamente entrou em uma onda de crescimento e, em consequência, se transformou num verdadeiro canteiro de obras.

    Mas este fenômeno trouxe consigo alguns efeitos colaterais. De acordo com levantamentos de entidades setoriais, a escassez de mão de obra qualificada é a principal ameaça ao segmento. Na Sondagem da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, o problema foi citado por 41,4% das 721 empresas consultadas em fevereiro. Já uma pesquisa realizada recentemente pela Confederação Nacional das Indústrias apontou que cerca de 70% das construtoras enfrentam dificuldades na área.  

    Para Marinei Carvalho, consultora da Grimper Gestão Estratégica de Pessoas, este "apagão de mão de obra" é produto, por um lado, do desenvolvimento acelerado do país e, por outro, da falta de preparação técnica e educacional dos profissionais, o que ocasionou uma demanda que o mercado de trabalho não consegue suprir. “Acredito que isso se prolongará por pelo menos mais uns quatro anos, momento em que os programas de qualificação promovidos pelo governo e iniciativa privada estarão produzindo resultados maiores”, afirma.

    Por enquanto, a solução para atrair e manter pessoal especializado tem sido incrementar a política de benefícios. Com a concorrência em alta, o trabalhador mais qualificado pode escolher a empresa que oferece o pacote mais vantajoso – que costuma incluir, cada vez mais, a alimentação. “Ainda existem obras em que os funcionários precisam trazer a sua vianda de casa, ou em que a refeição é preparada por um pequeno estabelecimento vizinho. Mas essas opções estão em franco declínio, pois geram muitas reclamações no canteiro, fomentando altos índices de rotatividade. Hoje é mais claro que investir em uma alimentação fornecida por um parceiro especializado traz um retorno positivo”, explica Aloisio Perdomini, diretor da Sabor Caseiro.

    A empresa, aliás, tem tradição no atendimento a construtoras. Com 30 anos de mercado, a Sabor Caseiro tem sido uma fornecedora constante do setor desde a época em que o benefício era uma raridade. Ela própria teve origem em uma empresa de construção civil, a Edusa S/A, que, no início da década de 1980, montou uma cozinha industrial para servir seus 1,3 mil funcionários. Hoje, a Sabor Caseiro tem seis clientes do segmento: Dobil, Goldsztein Cyrela, Kaefe, Kaufmann, Mosmann e Rossi. Juntas, estas empresas somam mais de 2,5 mil refeições/dia.

    Aloisio Perdomini lembra que oferecer uma refeição de qualidade, servida em ambiente apropriado, eleva a autoestima e a satisfação do trabalhador e até mesmo a sua produtividade. “Para o colaborador da construção civil a refeição tem uma importância muito grande, tem um peso maior do que em outros ramos de atividade pela própria necessidade do trabalho. Problemas neste fornecimento geram muita dor de cabeça para engenheiros e gestores. Em função disto, a parceria com uma empresa qualificada e experiente tem sido cada vez mais valorizada. Mas ainda há um bom caminho a ser percorrido neste amadurecimento do mercado”, ressalta.

    A consultora Marinei Carvalho, que tem entre seus clientes a Mossmann Incorporações, de Novo Hamburgo, vem acompanhando essa mudança de perto. “As empresas estão investindo em conscientização e benefícios, tornando o dia a dia do profissional mais fácil, digno e produtivo. O conselho que eu dou é que estreitem o diálogo com seus funcionários, que aprimorem as relações de trabalho e que decidam por um crescimento cooperativo, onde todos os envolvidos sejam beneficiados”, recomenda.