• Longevidade: o desafio de viver mais

    Nunca o tema da longevidade esteve tão em pauta quanto nos últimos anos. A razão é clara: a cada ano, a expectativa de vida da população aumenta um pouco. Segundo dados do IBGE, em 1999 a expectativa de vida do brasileiro ao nascer era de 70 anos; em 2009, este número subiu para 73,1 anos – na região Sul, a média sobe para 75,2 anos. O número de brasileiros que chegam aos 100 anos cresceu 77% entre as décadas de 1990 e 2000, um marco impensável para nossos antepassados – até o ano de 1900, a esperança de vida média da população mundial estava abaixo de 30 anos de idade. Atualmente, o povo mais longevo do mundo, o japonês, vive em média 83 anos.

    O aumento da expectativa de vida tem uma série de efeitos sociais e econômicos. O debate sobre o fator previdenciário, por exemplo, tem relação direta com o fenômeno. Quanto mais tempo as pessoas viverem, maiores serão os gastos do governo com aposentadorias, devido ao desequilíbrio na proporção entre as pessoas que contribuem e as que recebem benefícios. E não é só no Brasil – muitos países estão enfrentando problemas sérios com as contas da previdência por conta desse avanço gradativo da idade da população.

    No entanto, a longevidade é um dos fatores determinantes da qualidade de vida de uma nação. Se o desenvolvimento econômico de um país é medido pela soma de todos os bens e serviços produzidos em determinado período, o desenvolvimento humano utiliza indicadores de educação, renda e saúde, incluindo aí a expectativa de vida ao nascer. O primeiro é o famoso Produto Interno Bruto – um PIB alto significa riqueza, mas não necessariamente qualidade de vida humana. O segundo é o não tão conhecido, mas cada vez mais valorizado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que faz um contraponto ao PIB ao centrar-se nas pessoas e em seu bem-estar.

    O IDH leva em conta três dimensões: vida longa e saudável (saúde), acesso ao conhecimento (educação) e padrão de vida digno (renda). Como se vê, a longevidade é o principal aspecto da dimensão saúde. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a promoção do desenvolvimento humano requer que sejam ampliadas as oportunidades que as pessoas têm de evitar a morte prematura, e de garantir a elas um ambiente saudável, com acesso à saúde de qualidade, para que possam atingir o padrão mais elevado possível de saúde física e mental.

    Longevidade, portanto, é bem mais do que simplesmente ter uma vida mais longa: o grande desafio das gerações atuais e futuras é conseguir aproveitar os anos a mais com qualidade. Considerando que uma parcela cada vez maior da população brasileira é de idosos – 10,2% em 2012 (era 4,9% em 1950) e estimativa de chegar a 29,7% em 2050 – e que a taxa de fecundidade está em franco declínio (desabou de 6,16 filhos por mulher em 1940 para 1,7 atualmente), o cuidado com a saúde e o bem-estar será decisivo para que esse novo perfil populacional chegue à velhice com dignidade.

    Genética influencia, mas não é o principal

    Pesquisas comprovam que apenas 25% da duração da vida humana dependem da herança genética; os outros 75% ficam por conta de cada um. Portanto, para quem tem antepassados longevos, é mais interessante tentar descobrir o que eles fizeram para chegar lá do que somente confiar nos genes. Mas uma coisa é certa: o estilo de vida influencia diretamente na longevidade. Alimentação, prática de atividades físicas, fumo, bebidas alcoólicas e estresse estão entre os fatores que ajudam a determinar o quanto uma pessoa irá viver.

    No Japão, país com a mais alta expectativa de vida do mundo, a longevidade pode ser atribuída principalmente a uma herança cultural de cuidados com a alimentação e prática de exercícios. Além disso, os japoneses dão atenção à higiene em vários aspectos da vida diária e são conscientes em relação à saúde – check-ups regulares são normais e oferecidos em larga escala em escolas e no trabalho, a todos, pelo governo. E há ainda a comida japonesa, que é famosa por ser saudável e nutricionalmente balanceada.

    Plantando hoje para colher amanhã

    O exemplo nipônico, com costumes culturalmente arraigados, mostra que não dá para começar a se preocupar com a saúde só quando a idade chegar. É preciso começar cedo, de preferência já na infância, a fim de reduzir a incidência de doenças que podem tornar sofridos os últimos anos de existência dos idosos. Mas é claro que, na velhice, os cuidados devem ser redobrados. Se na juventude uma dieta regrada já é importante, com a chegada da terceira idade ela se torna imprescindível, na medida em que exerce papel fundamental no retardo do processo de envelhecimento e na melhora da performance mental e física.

    Sem dúvida, cuidar da alimentação é um dos meios mais simples e eficazes de chegar bem à idade mais madura da vida. Quem fizer isso e também conseguir evitar os hábitos reconhecidamente nocivos à saúde, como o sedentarismo e o consumo de álcool e cigarro, garante boa parte do que é necessário para envelhecer com disposição. As dicas são aquelas que todos nós já conhecemos, mas que nem sempre colocamos em prática. Veja algumas:

    • Reduzir ao máximo a gordura, o sal e o açúcar na dieta;
    • Consumir frutas, hortaliças, legumes e cereais integrais, de preferência orgânicos;
    • Evitar alimentos industrializados, refinados e embutidos; 
    • Manter uma dieta rica em alimentos naturalmente antioxidantes, que neutralizam os danos causados pelos radicais livres, tais como aveia, alho, azeite de oliva, suco de uva, cacau, oleaginosas (nozes, castanhas, avelã, amêndoas), tomate e linhaça.

    Referências:

    Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013. Disponível aqui.

    Aumento da longevidade e estancamento da esperança de vida, de José Eustáquio Diniz Alves. Disponível aqui.

    Pesquisa revela segredo da longevidade no Japão, por Ewerthon Tobace para a BBC Brasil. Disponível aqui.