• O perigo que vem em cápsulas

     

    Todo mundo conhece pelo menos uma pessoa que toma suplementos alimentares. Sob a forma de cápsulas, comprimidos, pós, barras energéticas e líquidos, esses produtos prometem aumentar o rendimento físico, emagrecer, definir músculos e até mesmo deixar o cabelo mais sedoso e rejuvenescer a pele. A promessa do corpo perfeito e da beleza sem sacrifícios conquista cada vez mais adeptos: uma pesquisa realizada em 2011 com mais de 200 pessoas em academias de São Paulo revelou que 61% delas consomem algum tipo de suplemento.

    Mas afinal, quem precisa de suplementação? Alguns especialistas afirmam que não há evidências científicas de que os suplementos façam real diferença no desempenho e nos resultados de quem pratica atividade física somente para manter a forma e o peso. Na verdade, essas substâncias foram desenvolvidas para aqueles que têm o esporte como profissão – nem o mais assíduo frequentador de academia chega perto da necessidade de reposição nutricional e energética de um atleta. E mesmo entre os esportistas o uso de suplementação é polêmico: não é à toa que testes antidoping foram instituídos exatamente para evitar que drogas não autorizadas melhorem, de maneira artificial, o rendimento dos atletas nas competições.

    O fato é que, para o praticante “comum”, e até mesmo para aqueles que têm como objetivo bíceps e abdômen superdefinidos, uma alimentação adequada e a prática regular de exercícios bastam. Como a grande maioria das pessoas que não são atletas se enquadra nesse perfil, a suplementação torna-se desnecessária – e perigosa. A pesquisa nas academias paulistanas mostrou também que 90% dos usuários de suplementação não têm acompanhamento de um especialista e que 8% deles sequer sabem a finalidade dos produtos que ingerem.

    A situação é ainda mais preocupante devido à facilidade de acesso aos suplementos, seja legalmente ou no “mercado negro”. Expostos lado a lado com alimentos integrais e orgânicos – artifício que dá às substâncias sintéticas uma falsa impressão de que são naturais –, os produtos são vendidos sem prescrição nas próprias academias, pela internet ou em lojas especializadas, que se proliferam pelas ruas e shoppings de todo o país.

    Um dos maiores riscos é o consumidor adquirir, ciente ou não, suplementos que tenham drogas de uso controlado em sua composição. Em uma investigação realizada em 2010 pelo Instituto Adolfo Lutz, também em São Paulo, foi constatado que 25% dos suplementos comercializados em academias de ginástica continham esteroides, mas não traziam essa informação na embalagem. Popularmente conhecida como “bomba”, essa substância derivada do hormônio masculino é usada para aumentar a massa muscular e seus efeitos colaterais podem até ser fatais. Isso não significa que os produtos livres de estimulantes e anabolizantes sejam inofensivos: fórmulas à base de aminoácidos, proteínas, vitaminas e carboidratos também podem ser altamente prejudiciais, podendo causar hipervitaminose, sobrecarga do fígado e dos rins, danos neurológicos, sobrepeso e intolerância gástrica.

    Sem eficácia comprovada, potencialmente perigosos para a saúde e comercializados em um mercado pouco confiável, os suplementos são bem mais nocivos do que benéficos. Ainda assim, está longe de haver unanimidade – há tanto defensores quanto acusadores fervorosos, entre leigos e especialistas. Mas a principal pergunta que precisa ser feita é: por que recorrer a complementos artificiais se todos os nutrientes existem em sua forma natural? Não resta dúvida de que a forma mais segura e eficiente de estar em forma é associar a atividade física regular a uma alimentação equilibrada. É no setor de hortifrúti do supermercado, é na feira do bairro, é no açougue que estão as proteínas, os carboidratos e as vitaminas de que o organismo precisa. Entre ser saudável ou buscar um ideal de beleza praticamente inatingível, a escolha parece bastante óbvia.