• Seu filho é o que você come

     

    O Dia da Criança é comemorado no dia 12, mas o mês de outubro é todo dedicado a elas. Os pais capricham em homenagens, presentes, passeios e brincadeiras. No meio de tudo isso, muitas guloseimas: chocolate, bala, hambúrguer, refrigerante, pipoca, sorvete... Já que é só de vez em quando, não faz mal deixar a criançada se lambuzar um pouco mais do que o normal, não é?

    Agora, se essa é a alimentação padrão do seu filho, se essa é a regra e não a exceção, então é bem possível que você tenha um problema sério em casa. É por isso que a Sabor Caseiro resolveu aproveitar a passagem do dia delas para propor uma reflexão: que tipo de alimento estamos dando para nossas crianças?

    Não é novidade para ninguém: as crianças estão cada vez mais gordinhas. Basta observar na rua, nas escolas, nas praças para constatar que a obesidade infantil é um fato, confirmado também pelas estatísticas oficiais. Segundo a última Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) realizada entre 2008  e 2009 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma em cada três crianças brasileiras entre 5 e 9 anos estão com peso acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde. Na faixa de 10 a 19 anos, um em cada cinco apresenta excesso de peso. O problema já afeta 1/5 da população infantil e pode resultar numa geração de adultos obesos, hipertensos, diabéticos e propensos a doenças cardiovasculares.

    Mas por que isso está acontecendo? Existem muitas respostas possíveis, mas em um ponto os especialistas parecem ser unânimes: a origem da má alimentação infantil generalizada está, basicamente, dentro de casa. Os hábitos alimentares da criança espelham o que ela aprende, principalmente, com os pais. Se o ambiente doméstico for desfavorável em algum aspecto, se os modelos a que a criança está exposta forem negativos, isso terá impacto em seu desenvolvimento. É no lar, portanto, que precisa ser deflagrada a “revolução” para deter essa verdadeira epidemia.

    Os pais no controle

    Um dos fatores que afetam os hábitos alimentares da criança é a oferta e o acesso a alimentos saudáveis. Em geral as crianças escolhem e preferem aquilo que é servido a elas com mais frequência e o que está facilmente disponível em casa. Oferecer vegetais e frutas determina não apenas o consumo, mas também a preferência por esse tipo de alimento. Além disso, é o comportamento familiar que estabelece em que tipo de ambiente a criança crescerá: pais que comem demais e muito rápido, que ignoram os sinais de saciedade e que levam uma vida sedentária dão um exemplo pobre aos seus filhos. Por outro lado, aqueles que promovem opções nutritivas por meio de seleções alimentares sadias expõem as crianças a um modelo mais positivo.

    Outro aspecto importante é o contexto no qual a criança come. Fazer as refeições em casa junto com os filhos, estabelecer horários para as principais refeições – o que contribui para a criação de um hábito –, preparar os alimentos na hora – eventualmente com a participação dos pequenos, se já tiverem idade para isso – e conversar sobre as escolhas alimentares são atitudes que interferem no modo como a criança se relaciona com a comida. Criar uma atmosfera agradável nesses momentos de convivência familiar é fundamental.

    A mídia também exerce forte influência em nossos hábitos alimentares e pode ter um efeito extremamente nocivo para as crianças. A propaganda direcionada a esse público tem sido alvo de protestos e restrições (veja o Especial +Sabor sobre mídia e alimentação e o Mural +Sabor sobre publicidade infantil), já que comprovadamente crianças menores de 12 anos não têm capacidade psicológica suficiente para compreender a mensagem publicitária. Além disso, diversos estudos relacionam o mau comportamento alimentar com a exposição da criança à televisão, seja pela indução ao consumo de produtos com pouco valor nutritivo, seja pelo sedentarismo resultante de várias horas em frente à TV.

    Como se pode notar, a maioria das situações e comportamentos que podem levar uma criança a desenvolver bons ou maus hábitos alimentares envolve os pais e o modo como eles próprios lidam com a comida. Há, claro, outros fatores que podem interferir nesse processo, como a escola, as relações sociais e o contexto socioeconômico e cultural. No entanto, é a família que desempenha o papel mais importante, tendo um alto grau de responsabilidade sobre as escolhas e hábitos da criança e, consequentemente, sobre o adulto que ela será no futuro.

    Apoio técnico:

    Tanise de Souza Costa, acadêmica de Nutrição na Unisinos e colaboradora da Sabor Caseiro.

    Referência:

    ROSSI, Alessandra; MOREIRA, Emília Addison Machado; RAUEN, Michelle Soares. Determinantes do comportamento alimentar: uma revisão com enfoque na família. Revista de Nutrição, v. 21, nov/dez 2008.